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Um tango para Messi *

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Depois da quarta Bola de Ouro, superando Zidane e Ronaldo, o que falta ainda a Lionel Messi? Nada, dirão os tietes que, ouso supor, constituem a imensa legião de fãs de futebol (profissionais ou não) espalhados pelo mundo. Messi atravessou fronteiras, ou melhor, pulverizou-as. Tem torcedores em todos os países. E essa torcida se justifica. Entre todas as suas qualidades, não falta nem mesmo uma inesperada modéstia. “Não foi o meu melhor ano no futebol”, disse, apesar de ter feito 91 gols em 2012. Justifica: apesar da façanha individual, os títulos do time não vieram como ele gostaria. O Barcelona foi desclassificado pelo Chelsea e ficou sem o título de campeão europeu. Não pôde, por consequência, disputar o Mundial no Japão. Este homem, então, além de tudo, tem pensamento coletivo! Não é o cúmulo?

De minha parte, e sem querer estragar a festa da unanimidade, acho que falta ainda uma coisa a Messi: ser campeão do mundo pela seleção argentina. Trata-se de um desafio que virá apimentar ainda mais a Copa do Mundo de 2014. Já pensaram (batam na madeira, por favor!) a Argentina vencer a Copa no Brasil, em pleno Maracanã? Eu só não digo que seria uma tragédia pior do que a de 1950 porque já não se fazem mais tragédias como antigamente. Ninguém vai cortar os pulsos. Mas que vai ser um estrago, isso vai. E que vai despertar o nosso sempre presente complexo de vira-latas, disso não tenho dúvida.

Deixando de lado esse pensamento sombrio, entendo que este passa a ser o principal desafio de Messi. A Copa é, para ele, aquela meta sem a qual os grandes craques não conseguem se motivar. Depois de ganhar tudo, bater todos os recordes, jogar no melhor time do mundo, o que mais resta? Pois bem, no fundo da consciência de Messi, ou, talvez, enterrado lá em seu inconsciente, deve incomodar essa proeza não realizada: dar a volta olímpica numa Copa do Mundo com a seleção do seu país natal, ser lá reconhecido como o digno sucessor de Maradona. Tornar-se, talvez, alvo da mesma idolatria de Diego Armando, ele, Lionel, de perfil tão oposto, tão avesso aos excessos (verbais e outros) do grande mito argentino?

Será isso possível? Maradona, que ganhou uma Copa para o seu país, parece argentino até a caricatura. É fácil visualizá-lo cantando Cambalache, por exemplo. Já Messi, com sua discrição, senso de economia de gestos e palavras, a finesse com que vai acumulando gol sobre gol, é mais minimalista. Vai à essência, depura movimentos, opta sempre pelo mais simples. Difícil imaginá-lo bailando um tango, essa dança tão cheia de arabescos e paixão. Se há uma argentinidade em Messi é a de um Jorge Luis Borges, tão portenho quanto inglês, com sua prosa sóbria e precisa.

Mas, quem sabe uma Copa, vencida no terreno do arquirrival Brasil, não seja capaz de entronizar Messi no imaginário dos seus patrícios? Cabe a Felipão e família exorcizar esse sonho de Messi – um pesadelo, do nosso ponto de vista.

* Coluna Boleiros, publicada no Caderno de Esportes do Estadão


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